Por Lívia Duarte – Psicóloga & Educadora Sexual
Você já sentiu um desejo diferente, que foge dos roteiros tradicionais? Algo que talvez te excite, mas que a sociedade ainda aponta como “errado”? Se sim, bem-vinda ao mundo das fantasias — um universo onde o prazer feminino pode, sim, ser plural, ousado e profundamente empoderador.
Hoje, falamos sobre um fetiche ainda pouco discutido, mas que tem ganhado força entre mulheres que estão se libertando do medo e redescobrindo o prazer: o cuckquean.
Cuckquean é o nome dado à mulher que sente prazer — físico ou psicológico — ao ver, saber ou fantasiar que seu parceiro está com outra mulher, com seu total consentimento. Para falar desse tema com a leveza e profundidade que ele merece, conversei com a Marina, 38 anos, casada há 12, e praticante ativa desse fetiche. O que ela compartilhou foi mais do que uma fantasia: foi uma jornada de autoconhecimento e liberdade.
“Ser cuckquean me fez olhar pro meu desejo com mais carinho e zero culpa” — Marina
Lívia: Marina, como foi que esse desejo surgiu? Isso é algo que você sempre teve?
Marina: Não, nunca pensei nisso até acontecer por acaso. Estava vendo um conteúdo adulto e, por curiosidade, cliquei num vídeo que mostrava um homem com duas mulheres, sendo que uma assistia. A forma como ela reagia, o controle que ela tinha da situação... aquilo me deu um tesão que me pegou de surpresa. Passei dias pensando naquilo. Achei que fosse só fantasia. Mas quanto mais eu explorava, mais eu percebia que aquilo era um desejo real, meu. Me deu medo no começo, claro. Mas também me deu muita vontade de entender por que me excitava tanto.
A Primeira Conversa: Medo, Sinceridade e Surpresa
Lívia: Como foi contar isso ao seu marido?
Marina: Levei meses. Tinha medo de parecer que eu não o amava, ou que havia algo errado comigo. Mas falei com o coração aberto: "Tenho uma fantasia e quero dividir com você. Não é porque te amo menos, é porque quero viver mais". Ele ficou sem entender no início, claro. Mas ele viu o quanto aquilo mexia comigo. A conversa foi com muito respeito, e isso foi essencial. Ele não julgou. Ele ouviu. E com o tempo, começou a se abrir também.
Do Imaginário à Realidade: A Primeira Experiência
Lívia: E quando vocês decidiram tornar isso real?
Marina: Foi quase um ano depois. Durante esse tempo, a gente conversou, leu artigos, trocou ideias, falou de limites. Na primeira vez, ele ficou com outra mulher com meu consentimento. Eu não participei, mas sabia de tudo. E quando ele voltou pra casa e me contou, com detalhes... eu estava em êxtase. Era um misto de excitação, de poder, de presença. Eu me senti... viva. É difícil explicar. Não havia dor, nem ciúme destrutivo. Havia tesão e uma entrega consciente. Me senti dona de mim.
Ciúmes e Controle Emocional
Lívia: O ciúmes nunca bateu?
Marina: Já bateu, sim. Mas o ciúme deixou de ser algo que me controla e passou a ser algo que eu acolho. Em vez de negar, eu entendo. O que me ajuda é o vínculo que temos. Ele sempre me reforça que sou a prioridade. Que aquilo é uma vivência compartilhada, não uma traição. Hoje, o ciúme virou um combustível. Ele me deixa ainda mais ligada no desejo.
"Isso é humilhante?" Não, é liberdade.
Lívia: Algumas mulheres podem ver isso como humilhante. O que você diria pra elas?
Marina: Que entendo esse pensamento — porque fomos ensinadas a ver a outra mulher como rival, e o homem como posse. Mas quando você se liberta dessa lógica, percebe o quanto pode ser excitante e libertador. Eu não sou submissa. Sou ativa na fantasia. Eu crio, eu conduzo, eu permito. É meu jogo. Tem algo mais empoderador que isso?
Uma Fantasia Que Cresce em Silêncio — Mas Não Sozinha
Lívia: Você já conheceu outras mulheres com esse desejo?
Marina: Sim, e isso foi transformador. Participo de grupos fechados onde mulheres compartilham fantasias e experiências como cuckqueans. Tem muita gente vivendo isso em silêncio, com culpa. Mas quando nos conectamos, a vergonha some e dá lugar à curiosidade e ao prazer.
Lembro de um relato que me marcou muito. Uma mulher de 41 anos, casada, disse que nunca teve tanto prazer quanto ao ver o marido com outra. Ela relatou que, ao assistir, sentia como se estivesse ampliando o próprio orgasmo. Como se o prazer dele fosse uma extensão do dela. Isso me tocou. Mostrou que não estamos sozinhas. E que isso não é anormal — é real.
O Fetiche Está Crescendo no Brasil
Lívia: Você acha que o fetiche está se tornando mais comum?
Marina: Muito. Só que ainda vive nas sombras, por causa do tabu. Mas cada vez mais mulheres estão quebrando o silêncio. A gente vê nos fóruns, nos podcasts, nos grupos fechados. O desejo tá aí — só que ainda falta espaço seguro pra falar disso. Por isso adorei essa entrevista. Porque talvez outras mulheres se reconheçam.
“Eu sou mais livre hoje do que jamais fui”
Lívia: Como você se sente hoje, depois de viver esse desejo abertamente?
Marina: Me sinto inteira. Eu não preciso esconder o que me excita. Eu tenho um parceiro que me respeita. E mais importante: eu respeito meu próprio prazer. Isso reflete em tudo. Sou mais segura, mais sensual, mais feliz. O orgasmo que começa na cabeça é o mais poderoso — e o cuckquean despertou isso em mim.
Para Quem Está Curiosa, Mas Ainda Com Medo
Lívia: Que conselho você daria pra uma leitora que está curiosa, mas com medo?
Marina: Comece devagar. Explore na sua mente, escreva fantasias, leia relatos. Sinta o que é seu desejo e o que é medo do julgamento. Converse com seu parceiro sem culpa. Isso não é "traição autorizada". É fantasia consciente. Quando feita com respeito e vontade dos dois, é libertador.
O Fetiche é restrito apenas ao marido e outra mulher?
Lívia: Você já sentiu vontade de estar com outro homem? Ou o seu desejo é apenas ver o seu marido com outra?
Marina: Essa pergunta é muito comum, e a resposta é simples: não, nunca senti vontade de estar com outro homem. O meu fetiche cuckquean é especificamente ver o meu marido com outra mulher. Não tem a ver com traição, e muito menos com falta de amor. Tem a ver com o prazer que sinto ao vê-lo desejado, com o jogo psicológico, com a entrega. A excitação não está em "substituí-lo", mas em vê-lo com outra sob o meu olhar — às vezes como espectadora, outras vezes como quem dirige a cena. É um desejo feminino que me conecta com meu lado mais intenso e profundo. Meu prazer é ver o prazer dele... com a minha permissão.
Cuckquean fora do Brasil
Lívia: Você acha que esse fetiche é mais comum fora do Brasil? Como foi perceber isso?
Marina: Sim, eu também achava que era algo raro, até começar a pesquisar e me surpreender. Em sites, fóruns e vídeos internacionais, percebi que o fetiche cuckquean é muito comum, principalmente em países como EUA, Canadá e alguns países europeus. O mais curioso é que muitas mulheres que compartilham essas experiências são jovens, têm namorados e estão explorando fantasias sexuais com naturalidade e sem culpa.
Isso me fez perceber que o Brasil ainda tem muita resistência quando se fala de prazer feminino. Aqui, infelizmente, tudo que foge do tradicional ainda é cercado de vergonha e julgamento. Mas isso está mudando. A mulher brasileira está cada vez mais aberta a explorar suas fantasias, e o cuckquean no Brasil já não é mais tão escondido como antes. Só precisa de mais espaço e menos tabu.
O Prazer Supremo em Assistir
Lívia: Pode compartilhar um momento marcante? Algo durante o ato que tenha sido inesquecível pra você?
Marina: Claro. Teve uma noite que nunca vou esquecer. Estávamos com uma convidada que eu mesma ajudei a escolher. Era uma mulher segura, madura, e desde o começo tudo fluiu com respeito. Eu assistia, sentada, com uma taça de vinho na mão, enquanto os dois se tocavam. Era como ver uma dança. Meu marido olhava pra mim o tempo todo, buscando meu sinal, meu olhar de aprovação. E aquilo me deixava em um estado de excitação surreal.
O momento mais marcante foi quando ele a penetrou e, ao mesmo tempo, me olhava e dizia: “isso é pra você”. Eu tive um orgasmo só assistindo. Não toquei em mim, não encostei nele. Só de ver, eu senti tudo. Foi como se meu corpo e minha mente estivessem em total sintonia. Aquilo não foi só sexo. Foi uma explosão de liberdade. E é isso que eu gostaria que as mulheres entendessem: às vezes, o maior prazer está em viver o desejo com total consciência.
A Outra
Lívia: Como era a conversa com a outra mulher? É difícil encontrar alguém disposta? Elas sentem vergonha? Como funciona essa parte?
Marina: Essa é uma parte delicada, mas muito importante. Muita gente acha que é só “chamar uma terceira” e tudo acontece. Mas não é bem assim. Primeiro, é preciso ter muita clareza entre o casal sobre os limites, os desejos e o tipo de experiência que querem. Depois, sim, vem o desafio de encontrar a parceira certa.
A maioria das mulheres com quem conversamos tinha curiosidade, mas também medo. Medo de ser julgada, de causar problemas no relacionamento alheio ou até de se envolver demais. Por isso, a conversa precisa ser honesta desde o começo. Eu sempre deixei claro que era uma fantasia nossa, que havia muito respeito envolvido e que ela seria parte de uma vivência segura e consensual.
Já aconteceu de termos longas conversas antes de algo acontecer de fato. Algumas mulheres só queriam conversar sobre o tema, outras estavam mais dispostas. E sim, muitas sentem vergonha no início — por isso, eu sempre conduzi com delicadeza, deixando espaço para que a outra mulher se sentisse respeitada e à vontade.
O que posso garantir é que, quando há respeito, abertura e comunicação, tudo flui muito melhor. Encontrar outra mulher para dividir esse momento não é apenas sobre sexo — é sobre criar uma experiência sensível, envolvente e rica em desejo feminino.
Conclusão: Fantasiar Também É Amar
O que aprendemos com a Marina é que o prazer feminino pode — e deve — ser vivido de forma ampla, criativa e sem culpa. Ser cuckquean não é submissão. É, para muitas mulheres, uma expressão poderosa de controle, desejo e liberdade emocional. E isso não deveria causar vergonha, mas admiração.
Se você sentiu um frio na barriga lendo esse artigo... talvez o seu desejo esteja sussurrando.
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Sua liberdade começa na curiosidade. O resto é só prazer.
Saiba mais sobre o termo 'cuckquean' e suas origens.
- Wikipedia – Cuckquean
Uma explicação detalhada sobre o termo "cuckquean", sua origem histórica e variações dentro do contexto de fetiches e dinâmicas de relacionamento.
https://en.wikipedia.org/wiki/CuckqueanLovePanky – Cuckquean Guide: Do You Like Watching Your Man with Someone Else?
Um guia introdutório que aborda o fetiche cuckquean, oferecendo insights sobre como explorar essa fantasia de forma segura e consensual. https://www.lovepanky.com/sensual-tease/fantasy/cuckquean-guide
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